A mais tradicional escola de Dança do Ventre da região de Campinas

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domingo, 22 de maio de 2011

Living “la vida loca”, por Paula Fallahi

Bom, hoje vou fugir um pouquinho do que a gente tem falado até agora aqui no blog e compartilhar com vocês minha experiência “vida após a dança”.

Como vocês sabem (ou alguns de vocês), nossa escola existe desde 1999 e com muito orgulho posso dizer que somos uma das três escolas de dança que sobrevivem até hoje na nossa querida e pequena cidade de Vinhedo, cujo centro se resume em uma rua.

Vivi da dança do ventre desde que me conheci por gente. Passei por todas aquelas fases que só quem pratica a dança há pelo menos dez anos sabe: o auge da Lulu na casa de chá, Soraia Zaied, Amani, MP, a primeira pré-seleção. Depois vieram os shows: apresentações todo fim de semana, nos mais diversos tipos de lugares, vestidas com aquela roupinha pelada até tarde da noite, dançando para um publico agasalhado num frio de 10 graus; ficar escondida, porque nosso show era o presente de aniversário surpresa do aniversariante; fazer show o mês inteiro (quando não, o ano inteiro) mediante contratos com empresas e no final, tirar foto com pelo menos 200 pessoas. Uma vida de glamour, mesmo com as adversidades da profissão.

E falando da nossa querida Fallahi...

Nós aqui sempre tivemos um diferencial: as aulas exclusivamente particulares. Valorizamos o aprendizado, o bom gosto e a elegância nos melhores padrões que surgiam no mundo da dança. Nossas alunas toda vida andaram na linha e quando não o faziam eram convidadas a se retirar da escola; graças a esse tipo de coisa, ganhamos uma faminha de exigentes demais, porém, somos igualmente famosas pela excelente qualidade dos nossos trabalhos e temos o respeito de 90 por cento de nossas ex-alunas. Inclusive o de algumas que não saíram, vamos dizer assim, ”numa boa".

Uma coisa da qual me orgulho muito é de que nós três ( eu, minha mãe e minha irmã) sempre buscamos que nossas alunas fossem as melhores. Queríamos que elas dançassem no mesmo nível que o nosso e se possível, até melhor, mesmo sabendo que isso daria asinhas à algumas meninas que acharam que podiam voar sozinhas (essas, no fim, se arrebentaram no meio do caminho). O fato é que isso também resultou em bailarinas incríveis que foram elogiadas por públicos de outras cidades.

Em 2002, minha veia de coreógrafa começou a falar mais alto. Pegava uma música e já começava a imaginar todo mundo dançando igual. Fiquei pirada mesmo! Passava um tempão assistindo vídeo de sapateado irlandês, ginástica rítmica e tudo que pudesse enriquecer minha mente. Em 2006, coloquei a loucura em prática com um grupo de meninas e o resultado foi o primeiro lugar num concurso em São Caetano e um monte de novos contratos logo após. Antes disso, também passamos por aquela fase boa da dança onde íamos em eventos por aí, participávamos de concursos, éramos convidadas especiais de outras escolas e organizávamos excursões gigantes com toda a galera. Entrávamos num camarim e meninas de outras escolas nos reconheciam porque suas professoras mostraram vídeos nossos para elas… era muito bom!

Depois de resistir muito, em 2009 prestei o exame da KhanelKhalili e passei, como foi compartilhado com vocês. Mas ao contrario do que eu e todos podiam imaginar, aí se encerrou uma fase dentro de mim… e começou outra.

Uma semana depois do resultado da pré seleção, senti um vazio muito grande, era como se eu tivesse chegado no limite da minha profissão. Fiquei desestimulada em dar aulas, minha criatividade não andava tão boa e minha memória também não. Em março do ano passado a “crise dos 25” se abateu sobre minha pobre pessoa e decidi que precisava sair um pouco daquele mundo: resolvi trabalhar fora. Fui parar numa loja de roupa. Sim: lá fui eu trabalhar como vendedora num lugar onde permaneci por praticamente um ano. Mas não vou falar aqui de qualquer experiência que tive lá dentro porque nada do que eu disser vai acrescentar algo na vida de vocês.

No final cansei e como todo mundo falava que eu era uma ótima vendedora, ou que eu era muito simpática etc. e tal, resolvi tentar continuar nessa linha. É incrível como quem tem boca vai a Roma. Fiz quatro entrevistas, fui chamada nos quatro lugares e no final tive que escolher onde ia ficar. Acabei indo parar numa grande loja dessas que uma vez por ano abre quase de madrugada e todo mundo faz fila pra levar tudo mais barato… e nessa vida fiquei um mês.

Eu não achei que pessoas com mais de 25 anos pudessem se matar ( quase que literalmente ), se ofender diariamente e criar um ambiente hostil inclusive na frente dos próprios clientes. E para quê? Graças a uma pequena palavrinha que transforma muitos vendedores na pior raça que existe: META. E essa, decididamente, não era a minha “vibe”. Vender eletrônicos, então... nossa senhora!!!!! Era o mesmo que pedir para o meu gerente dançar Hassar Fazar de salto. Ou seja, uma catástrofe.

Acabei tirando a seguinte conclusão da minha própria experiência: durante dez anos da minha vida eu pude ser muito feliz. Eu tive essa oportunidade e escolhi viver assim. Sei que poucos tiveram a oportunidade que eu tive e isso, inclusive, causou desconforto em gente que achava que era muito fácil ganhar a vida dançando, inclusive gente do meu próprio sangue. Durante todos esses anos acredito que já passaram pela nossa escola por volta de 800 mulheres. Posso contar nos dedos quantas não eram legais, ou de caráter duvidoso. Em contrapartida, esse ultimo ano em que trabalhei fora conheci um número significativo de gente mau caráter, desrespeitosa, fútil, invejosa, burra, mesquinha, folgada, e mentirosa. Gente que acha que tem toda a experiência do mundo e não sabe lidar com dois funcionários, ou melhor, não sabe lidar com pessoas.

Uma coisa é fato, nós seres humanos estamos sempre em busca de alguma coisa dentro da gente que fala mais alto. E é uma coisa que às vezes, não ouvimos direito. Ou não entendemos. Mas a gente faz. Isso traz consequências boas e ruins. Eu mesma não me arrependo de nada do que fiz, mas nem tudo é valido. Eu não sou o tipo de pessoa que pega pensamentos soltos e frases profundas na internet pra dar indiretas nos outros, até porque isso demonstra uma falta de personalidade sem tamanho. E também não acredito que tudo que a gente passa de ruim nos acrescenta algo de bom; acho, inclusive, que torna algumas pessoas piores. Eu, graças a Deus, creio que sou uma pessoa master, blaster, super, ultra iluminada e hoje estou feliz da vida e de bem comigo mesma. Pode ser que amanhã lá esteja eu com alguma coreografia mirabolante ou fazendo trufa pra vender. Não importa. A gente só tem uma oportunidade pra ser feliz. Hoje eu acredito nisso.